Como já se previa, o novo governo português acabou com a manifestação de interesse, instrumento que permita a regularização de estrangeiros que entravam e residiam ilegalmente em território nacional.
Por muitos anos, a manifestação de interesse foi utilizada por milhares de imigrantes como alternativa ao visto de residência, cujo procedimento exige que o estrangeiro detenha uma autorização de viagem expedida pela autoridade consular portuguesa do seu país de origem.
Para obter um visto de residência, o imigrante precisa preencher os requisitos exigidos pela legislação portuguesa. Assim, muitas pessoas que não cumpriam estes requisitos e outras que acreditavam não cumpri-los, adentravam em Portugal sem passar por um posto de fiscalização imigratório ou, como era mais comum, declaravam às autoridades das fronteiras que apenas estavam a entrar no país na qualidade e turistas. Alguns cidadãos de países terceiros, como os brasileiros, não necessitam de visto de turismo para passear nos países europeus, o que facilitava este desvirtuamento.
Foi dessa maneira que um movimento de imigração desenfreado e desordenado atingiu Portugal. Os imigrantes entravam ilegalmente no país e, em seguida, submetiam a manifestação de interesse para obter uma autorização de residência sem necessidade de um visto desta qualificação. O anterior governo português fazia vistas grossas a esta situação, permitindo a continuidade desse instrumento de regularização, dada a necessidade de Portugal em receber mão de obra estrangeira.
Porém, a estrutura de serviços públicos e de habitações não estava preparada para uma recepção numerosa, repentina e desregrada. O resultado foi de caos no órgão de imigração, da segurança social e tributário, além do agravamento de uma crise habitacional. Isto atingiu a população nacional, gerou insatisfações, conflitos com a comunidade imigrante e refletiu no resultado das últimas eleições legislativas.
O grupo partidário vencedor do pleito já prometia em campanha medidas para frear a imigração ilegal. E não demorou muito, em três meses o novo governo do país deu fim à manifestação de interesse e deixou um recado: o estrangeiro que pretende se mudar para Portugal terá que seguir o caminho da lei, pedir um visto de residência em seu país de origem.